Nasceu em 5 de agosto de 1872, em São Luiz do Paraitinga (SP), filho de Bento Gonçalves Cruz e Amália Bulhões Cruz. Em 1889 ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1892, apresentando a tese de doutoramento “A vehiculação microbiana pelas águas”. No ano seguinte instalou em sua residência um pequeno laboratório de microbiologia. Nesse período, assumiu tanto a clínica que pertencera a seu pai como o ambulatório em que ele cuidava dos funcionários da Fábrica de Tecidos Corcovado. Em 1894, a convite de Egydio Salles Guerra, trabalhou na Policlínica Geral do Rio de Janeiro como responsável pela montagem e chefia do laboratório de análises clínicas que apoiava o Serviço de Moléstias Internas. No mesmo ano, auxiliou o Instituto Sanitário Federal, chefiado por Francisco Fajardo, a diagnosticar o cólera como a epidemia reinante no vale do Paraíba. Em 1897 foi para Paris, onde estudou microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur e medicina legal no Instituto de Toxicologia. Retornou em 1899, reassumiu seu cargo na Policlínica e foi convidado para fazer parte da comissão chefiada por Eduardo Chapot-Prévost a fim de verificar a mortandade de ratos responsável pelo surto de peste bubônica em Santos. De volta ao Rio de Janeiro, foi convidado a ocupar a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal que estava sendo construído na Fazenda Manguinhos, comandado pelo barão de Pedro Affonso, proprietário do Instituto Vacínico Municipal, e cujo funcionamento se iniciou em 1900. Em 1902, após divergências internas que provocaram a exoneração do barão, passou a dirigir sozinho a instituição. No ano seguinte, assumiu o comando da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) com o desafio de empreender uma campanha sanitária para combater as principais doenças que grassavam na capital federal: febre amarela, peste bubônica e varíola. Os métodos utilizados em relação às epidemias de febre amarela e peste bubônica abarcaram desde o isolamento dos doentes, a notificação compulsória dos casos positivos, a captura de mosquitos e ratos, até a desinfecção das moradias situadas em zonas de focos. Em 1904, após a aprovação da lei da vacinação antivariólica obrigatória, ocorreu uma revolta popular, seguida da tentativa de golpe por parte dos militares – episódio denominado de Revolta da Vacina. Durou uma semana e foi sufocada com saldo de mortos, feridos e presos, o que levou à revogação da obrigatoriedade. Entre 1905 e 1906 realizou, pela DGSP, uma expedição a trinta portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do país com o objetivo de estabelecer um código sanitário de acordo com os preceitos internacionais. Em 1907 recebeu a medalha de ouro em nome da seção brasileira presente no XIV Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim. Terminado o evento, foi a Paris, com o objetivo de estreitar laços científicos com o Instituto Pasteur, e em seguida a Nova York, onde conheceu o Instituto de Pesquisas Médicas. Nesse período, cumprindo missão delegada pelo governo brasileiro, reuniu-se com o presidente Theodore Roosevelt para lhe garantir que a esquadra norte-americana poderia desembarcar na capital federal sem temer a febre amarela. Encontrava-se ainda no exterior quando, em 1907, o presidente Afonso Pena transformou o Instituto Soroterápico Federal em Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos. Em sua volta ao país, no início de 1908, foi recepcionado como herói nacional, e não mais criticado por sua conduta à frente das campanhas sanitárias. Ainda em 1908 o instituto foi denominado Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Em 1909 solicitou sua exoneração da DGSP e optou pela direção do IOC. Em Manguinhos realizou o levantamento das condições sanitárias do interior do país por meio de expedições científicas promovidas pelo IOC, tais como, em 1910, os combates à malária durante a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, para onde viajou em companhia de Belisário Penna, e à febre amarela, a convite do governo do Pará. Em 1913 ingressou na Academia Brasileira de Letras, e um ano depois foi agraciado com o título de oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Após deixar o comando do IOC no início de 1916, em consequência do agravamento de sua doença renal, foi residir em Petrópolis (RJ), onde ocupou o cargo de prefeito por nomeação de Nilo Peçanha, presidente do estado do Rio de Janeiro. Morreu em 11 de fevereiro de 1917, em Petrópolis.
Joaquim José Rodrigues Torres, nasceu em 13 de dezembro de 1802 em Freguesia de São João do Itaborahy e morreu no Rio de Janeiro em 08 de janeiro de 1872. Foi jornalista e político brasileiro. Filho de Manuel José Rodrigues Torres e de Emerenciana Matilde Torres, fez seu estudo básico no Rio de Janeiro e depois partiu para Portugal, onde formou-se em matemática na Universidade de Coimbra, em 1825. Ao retornar ao Rio de Janeiro, no ano seguinte foi logo contratado como lente substituto da Real Academia Militar. Retornou à Europa em 1827, aperfeiçoou seus estudos em Paris até 1829, retornou ao Brasil e permaneceu no magistério até 1833.
Filiado ao Partido Liberal, fundou o jornal Independente, que teve curta duração. Iniciou na vida pública como ministro da Marinha, em 16 de julho de 1831. Posteriormente, já ligado ao Partido Conservador, ao lado de Eusébio de Queirós e do Visconde de Uruguai, compôs a tríade de importantes políticos, apelidada de "Trindade Saquarema".[1]
Se uniu a família Cotrim do Rio de Janeiro e teve como neto o Dr. Eduardo Augusto Torres Cotrim que foi engenheiro, agricultor, pecuarista e político.
Foi deputado geral na 3ª legislatura pela corte e pelo Rio de Janeiro, primeiro presidente da província do Rio de Janeiro, cargo no qual, entre outras realizações, instalou a capital fluminense na Vila Real da Praia Grande, no ano seguinte renomeada Niterói, e criou sua Guarda Policial, atual Polícia Militar. Em 1837 transfere-se para o Partido Conservador.
Foi também presidente do Banco do Brasil em dois períodos,[2] ministro da Fazenda (ver gabinetes Olinda de 1848 e Monte Alegre), conselheiro de Estado e senador do Império do Brasil de 1844 a 1872.
Em 11 de dezembro de 1854 foi agraciado visconde, oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Foi contrário a lei do ventre livre antes de sua promulgação.
Criado pela prefeitura do Distrito Federal com o objetivo de produzir soros e vacinas contra a peste bubônica, o Instituto Soroterápico Federal foi incorporado à administração pública federal em 1900, por decisão do ministro da Justiça e Negócios Interiores, Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa (1865-1942). A doença epidêmica já atingira a Europa e a América Latina e chegara ao porto de Santos no ano anterior, tendo o governo do Estado de São Paulo criado o Instituto Butantã, anexo do Instituto Bacteriológico de São Paulo, para produção de soros de Yersin contra peste bubônica, somente fornecido pelo Instituto Pasteur (Benchimol, 1990, p. 17).
No Rio de Janeiro o prefeito José Cesário de Faria Alvim (1839-1903), temendo o avanço da peste determinou a criação do Instituto Soroterápico, sob a direção de Pedro Afonso de Carvalho Franco (1845-1920) – que dirigia o Instituto Vacínico Municipal, criado em 1894 para produção da vacina antivariólica – e a direção técnica de Oswaldo Cruz (1872-1917). A fundação dos institutos, em São Paulo e no Rio de Janeiro, fez parte da conjuntura de institucionalização da medicina experimental e da difusão da bacteriologia, com a presença cada vez maior do laboratório como base para a busca de diagnósticos seguros e de terapêuticas exclusivas para as doenças.
Por outro lado, a possibilidade de uma nova epidemia acometer as cidades portuárias dos principais estados, notadamente a capital federal, era uma preocupação constante, em razão do alto índice de mortalidade, do elevado custo financeiro com as desinfecções e do potencial dessas doenças em suspender os serviços urbanos. Em 1893 a epidemia de cólera paralisara o fluxo migratório para o Rio de Janeiro, logo, a nova ameaça exigia uma resposta imediata do governo dado o risco iminente da peste bubônica.
O Instituto Soroterápico foi instalado na Fazenda Manguinhos, de propriedade da prefeitura do Distrito Federal, tendo se iniciado seus trabalhos em 25 de maio de 1900. No entanto, o novo prefeito Antônio Coelho Rodrigues (1846-1912), sob a alegação de dificuldades financeiras da municipalidade para mantê-lo, solicitou sua transferência para a administração federal. Assim, em 9 de maio de 1900, em resposta ao ofício n. 148, o Ministério da Justiça e Negócios Interiores assumiu a administração do órgão, inaugurado oficialmente em 23 de julho sob a designação de Instituto Soroterápico Federal.
O combate à peste bubônica foi contemplado por um crédito suplementar aprovado pelo decreto n. 3.823, de 10 de novembro de 1900, que incorporava ainda as despesas com o custeio e a folha de pessoal do Instituto Soroterápico. Alguns meses após sua inauguração oficial, em outubro de 1900, o Instituto Soroterápico já produzia a primeira leva de soro antipestoso. Em 1902, o barão Pedro Afonso se demitiu da direção do órgão, assumindo o cargo Oswaldo Cruz, que passaria a acumular com o comando da Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP), por convite do ministro da Justiça e Negócios Interiores José Joaquim Seabra (1855-1942).
Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919) assumiu em 1902 a Presidência da República, tendo como uma de suas bandeiras o saneamento da capital federal, a reforma urbana e a modernização do porto. Uma série de decretos foi aprovada regulamentando a atuação da União na questão sanitária na capital federal e nos estados, através da DGSP. Já em 1904, foi aprovado o novo regulamento dos serviços sanitários a cargo do governo federal pelo decreto n. 5.156, de 8 de março de 1904. Coube ainda ao engenheiro Francisco Pereira Passos, prefeito do Distrito Federal, a missão de levar à frente o projeto de reurbanização da cidade, cabendo aos engenheiros Francisco Bicalho e Paulo de Frontin as reformas do porto e do centro do Rio de Janeiro, sucessivamente. Oswaldo Cruz ficou à frente das campanhas sanitárias que pretendiam erradicar as principais epidemias que frequentemente acometiam a cidade do Rio de Janeiro: febre amarela, varíola e peste bubônica, tarefa para a qual recebeu amplos poderes.
Parte integrante da estrutura do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o Instituto Soroterápico Federal passou à subordinação da 1ª Secção da Diretoria do Interior, pelo decreto n. 4.728, de 2 de janeiro de 1903. Em 1904, o decreto n. 5.156, de 8 de março, que deu novo regulamento aos serviços sanitários a cargo da União, colocou sob a dependência da DGSP o Instituto Soroterápico Federal, bem como a Inspetoria da Profilaxia da Febre Amarela, a Inspetoria de Isolamento e Desinfecção e os hospitais de isolamento, lazaretos e estações de desinfecção.
Mas foi em 1907 que o órgão passou por sua primeira reorganização, que consolidaria em seu regulamento as atividades já realizadas, além de conferir-lhe maior autonomia, subordinado diretamente ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Pelo decreto n. 1.802, de 12 de dezembro de 1907, o órgão teve alterada sua denominação para Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos, além de estabelecidas competências e estrutura. Por esse decreto foram ampliadas suas atribuições originais, ficando encarregado do “a) estudo das moléstias infecciosas e parasitárias do homem, dos animais e das plantas; b) questões referentes a higiene e zoologia; c) preparo dos soros terapêuticos e demais produtos congêneres, destinados ao tratamento e profilaxia da moléstia; d) escola de veterinária, compreendendo a patologia, a higiene e terapêutica, mas na medida dos trabalhos científicos ocorrentes” (Brasil, 1941, p. 139).
Oswaldo Cruz gozava de grande prestígio nacional, sua atuação à frente das campanhas de saneamento e a erradicação da febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, em 1907, fizeram com que o Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos fosse rebatizado com seu nome. Pelo decreto n. 6.891, de 19 de março de 1908, ficava alterada a denominação do órgão para Instituto Oswaldo Cruz, que ficava subordinado diretamente à pasta da Justiça e Negócios Interiores, com autonomia técnica e científica. Porém, em 1911, o decreto n. 9.196, de 9 de dezembro, reorganizou o ministério, ficando o órgão dependente da Diretoria do Interior, também responsável pelos serviços sanitários a cargo da União.
Em 1917, ano da morte de Oswaldo Cruz, o instituto que levava seu nome se consolidara como uma referência nos estudos sobre saúde pública. Da atuação nos centros urbanos que marcara os primeiros anos do órgão, vieram as pesquisas sobre as doenças que assolavam os sertões brasileiros. Para tanto, além das expedições científicas pelos portos marítimos e fluviais do Brasil (1905-1906), seguiram-se as realizadas no interior do país (1911-1913). O prestígio da instituição pode ainda ser dimensionado pela criação de filiais em Belo Horizonte (MG, 1906), Pelotas (RS, 1914), de breve existência, e São Luís (MA, 1919).
Em 1918, o decreto n. 13.159, de 28 de agosto de 1918, determinou que a manipulação e a difusão dos medicamentos oficiais, destinados ao combate das doenças endêmicas e epidêmicas no país, passariam ao encargo do Instituto Oswaldo Cruz. O ato informava ainda que seria instalada uma secção de medicamentos oficiais no instituto, com funcionários nomeados provisoriamente, até que o Congresso Nacional organizasse o quadro definitivo e fixasse seus vencimentos.
Com uma nova organização promovida pelo decreto n. 13.527, de 26 de março de 1919 o Instituto Oswaldo Cruz fica mais uma vez diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, mantida sua autonomia técnico-científica. Suas atribuições foram ampliadas, acrescidas da “execução dos serviços de medicamentos oficiais” e da “realização de cursos práticos relativos à microbiologia, à parasitologia e à zoologia médica” (Brasil, 1920, p. 262). Além de estabelecer suas competências e estrutura, o regulamento autorizava ainda o órgão a fundar novas filiais de acordo com a conveniência das pesquisas regionais e seus recursos. O instituto poderia também manter um hospital de estudos, especialmente destinado às moléstias microbianas e parasitárias do país, além de um hospital regional e um laboratório rural na estação de Lassance, Minas Gerais, na Estrada de Ferro Central do Brasil, destinados a estudos de patologia humana e zoologia médica (Brasil, 1920, p. 262).
Uma nova mudança em sua estrutura ocorreu em 1921, pelo decreto n. 14.629, de 17 de janeiro de 1921, que incorporou ao Instituto Oswaldo Cruz o Instituto Vacinogênico Federal, destinado à cultura, ao preparo e ao fornecimento da vacina antivariólica, que passava a constituir uma seção técnica. Em 1926 o Instituto Oswaldo Cruz teve seu novo regulamento aprovado pelo decreto n. 17.512, de 5 de novembro. O órgão manteve a subordinação ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, tendo sido integrado ao novo regulamento o preparo da vacina antivariólica, atribuição recentemente incorporada às suas atividades. O regulamento dispunha ainda sobre as filiais do instituto, tendo citado apenas as de Belo Horizonte e São Luís.
O decreto de 1926 consolidou as alterações sofridas pelo órgão desde o último regulamento, aprovado em 1919. O novo ato definiu como suas atribuições: estudos de patologia experimental, zoologia médica, veterinária, micologia, fitopatologia e anatomia patológica; estudos de higiene e saúde pública; estudos de fisiologia e química aplicada; preparo de produtos biológicos e químicos, destinados ao tratamento e à profilaxia das doenças do homem e dos animais; preparo de vacina antivariólica; execução do serviço de medicamentos oficiais; análise de soros, vacinas e outros produtos biológicos, colocados no mercado e realização de cursos práticos de microbiologia, zoologia médica e anatomia patológica.
Esse também foi o primeiro regulamento que apresentou a estrutura do Instituto Oswaldo Cruz organizado em unidades administrativas, não mais apenas os cargos que a compunham. A organização administrativa distinguia as seções científicas, administrativas e auxiliares. As unidades científicas eram compostas pelas seguintes seções: Bacteriologia e Imunidade, Zoologia Médica, Micologia Fitopatológica, Anatomia Patológica, Hospitais e Química Aplicada. Compunham as seções administrativas: Secretaria, Tesouraria, Zeladoria, Almoxarifado e Arquivo. As chamadas seções auxiliares eram: Biblioteca, Museu, Desenho, Fotografia e Microfotografia, Tipografia, Esterilização e Preparação de Meios de Cultura, Distribuição de Soros e Vacinas, Biotério e Cavalariças, Carpintaria, Conservação dos Imóveis e Estradas, Oficina de Encadernação e Oficina de Preparação de Ampolas e Aparelhos de Vidro.
Essa era a organização do Instituto Oswaldo Cruz quando teve lugar a Revolução de 1930, movimento político-militar que colocou Getúlio Vargas à frente do governo, rompendo com o domínio oligárquico que vigorara durante a Primeira República. A reforma administrativa iniciada pelo governo Vargas procurou ultrapassar o regime agrário exportador e incorporar novas demandas sociais impostas pelos centros urbanos, comprometida com o projeto de modernização do Estado. Dessa forma, foram estabelecidos dois novos ministérios, o Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP) e o Ministério do Trabalho (MT). O MESP, criado pelo decreto n. 19.402, de 14 de novembro de 1930, subordinaria o DNSP e centralizaria as questões pertinentes às políticas públicas para a área, configurando um novo marco no processo de institucionalização da saúde pública no Brasil.
A história da Fundação Oswaldo Cruz começou em 25 de maio de 1900, com a criação do Instituto Soroterápico Federal, na bucólica Fazenda de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Inaugurada originalmente para fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica, a instituição experimentou, desde então, uma intensa trajetória, que se confunde com o próprio desenvolvimento da saúde pública no país. Pelas mãos do jovem bacteriologista Oswaldo Cruz, o Instituto foi responsável pela reforma sanitária que erradicou a epidemia de peste bubônica e a febre amarela da cidade. E logo ultrapassou os limites do Rio de Janeiro, com expedições científicas que desbravaram as lonjuras do país. O Instituto também foi peça chave para a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública, em 1920. Durante todo o século 20, a instituição vivenciou as muitas transformações políticas do Brasil. Perdeu autonomia com a Revolução de 1930 e foi foco de muitos debates nas décadas de 1950 e 1960. Com o golpe de 1964, foi atingida pelo chamado Massacre de Manguinhos: a cassação dos direitos políticos de alguns de seus cientistas. Mas, em 1980, conheceu de novo a democracia, e de forma ampliada. Na gestão do sanitarista Sergio Arouca, teve programas e estruturas recriados, e realizou seu 1º Congresso Interno, marco da moderna Fiocruz. Nos anos seguintes, foi palco de grandes avanços, como o isolamento do vírus HIV pela primeira vez na América Latina. Já centenária, a Fiocruz desenha uma história robusta nos primeiros anos do século 21. Teve enfim seu estatuto publicado, tornou-se Centro Colaborador para Saúde Global e Cooperação Sul-Sul da OMS e participou do lançamento do primeiro volume da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em parceria com o Ministério da Saúde e o IBGE. Em 2016 elegeu a primeira mulher presidente em sua história, Nisia Trindade de Lima, reeleita em 2021 para um segundo mandato, e dois anos depois foi sede do maior evento da área de saúde da América Latina, o 12º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva - Abrascão 2018. A trajetória de expansão nacional da Fundação também ganhou novos passos nesta segunda década, com a inauguração da Fiocruz Ceará, a criação de escritórios como o de Mato Grosso do Sul e o de Moçambique, na África, além da inauguração do Fioantar, laboratório permanente de pesquisas na Antartica, e do lançamento da TV Canal Saúde. Nesse caminho que se alimenta de conquistas e de desafios sempre renovados, o início do novo século também contou com uma série de grandes avanços científicos, com feitos como o deciframento do genoma do BCG (bactéria usada na vacina contra a tuberculose), e protagonismo em diversos desafios para a saúde pública brasileira e internacional. A Fiocruz atuou como um dos principais centro de pesquisa e produtor de conhecimento na pandemia de Infleunza A(H1N1), na epidemia de zika e microcefalia de 2105/2016 e na pandemia de Covid-19. Nesta, teve papel estratégico na produção de uma das vacinas contra a doença, entregando milhões de doses de imunizantes ao SUS e ajudando a proteger a população brasileira. A assinatura do acordo pela Fiocruz com o Reino Unido também objetivou garantir a produção totalmente nacional da vacina com a transferência total de tecnologia, eliminando os riscos de dependência nacional. Com mais de 120 anos de história, a tradicional e inovadora Fiocruz é desafiada constantemente pelas intensas e cada vez mais aceleradas transformações sociais do mundo que, ao mesmo tempo, são o combustível para a instituição reforçar sua vocação pioneira na área da saúde e da ciência.
Localizado no bairro Valparaíso, bem próximo ao Centro de Petrópolis, o Palácio Itaboraí foi construído em 1892, como residência de verão do projetista e construtor italiano Antonio Jannuzzi. A edificação possui dois pavimentos, sendo o superior de pé-direito alto, e o inferior – onde provavelmente localizavam-se as áreas de serviço da casa – mais baixo. Destacam-se as fachadas com elementos ornamentais de inspiração clássica, como as colunas das varandas. Duas imponentes escadas em mármore – uma na fachada principal e outra na posterior – conduzem os visitantes para os salões principais da casa. O jardim que cerca o palácio, contemporâneo à sua construção, foi implantado em uma colina natural e caracteriza-se pela sucessão de planos suspensos. Trata-se de um exemplar de composição romântica e erudita, com rica ornamentação, denominado "jardim inglês". Mais tarde, abrigou o Colégio Americano e a primeira Faculdade de Direito de Petrópolis. Os terrenos laterais do palácio, com as construções existentes, foram incorporados em 1938 e em 1944, pelo governo do estado do Rio de Janeiro, quando o prédio foi adquirido para ser usado como residência de verão dos governadores. Em 1982, o palácio foi tombado pelo Iphan e pela Prefeitura de Petrópolis. Até 1998, funcionavam em suas dependências quatro órgãos estaduais: a Feema, a Coordenadoria da Região Serrana 2, o Centro de Estudos Supletivos de Petrópolis e a Fundação Leão XIII. Esta ocupação revelava-se inadequada, tanto para a conservação e preservação da edificação, quanto para as funções a ela destinadas, pois é um prédio com vocação residencial e de recepção, adaptado para atividades de estudos. A Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, recebeu em cessão de uso o Palácio Itaboraí, em termo assinado com o governo do Estado, publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 21 de Dezembro de 1998, com a finalidade de abrigar encontros de estudos, pesquisas e para formulação e definição de políticas, além de conferências avançadas, nos campos da Saúde Pública e da Pesquisa Médica e para a realização de cursos, exposições, concertos e outros eventos sociais abertos à comunidade petropolitana. Com o objetivo de recuperar os materiais construtivos originais e dotar o pavilhão de infraestrutura adequada para abrigar o novo uso, o Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, com o apoio da PETROBRAS, elaborou e executou o projeto de restauração do conjunto durante o período 2008 - 2011. O projeto de intervenção teve por objetivo a recuperação da integridade física e estética da edificação e a adaptação de seus espaços aos novos usos previstos. Manteve-se a distribuição espacial da área remanescente da construção original, situando algumas adequações dos espaços onde existiam descaracterizações evidentes e com qualidade construtiva incompatível com o valor estético da edificação. O projeto respeitou as características espaciais e as unidades formal e estilística dos prédios, bem como algumas das diversas intervenções por eles sofridas ao longo dos seus 107 anos. O acréscimo feito ao Palácio, em 1969, foi mantido para que em seu interior se instalasse um moderno e confortável auditório para 78 pessoas. Assim se procedeu por se tratar de área não constante no projeto original, o que permitiu maior liberdade de intervenção.
Antonio Jannuzzi foi um projetista e construtor italiano que teve vasta atividade profissional na Cidade e Estado do Rio de Janeiro. Nasceu em 1854 em Fuscaldo, na Calábria, Itália. Em 1872 emigrou de para Montevidéu, Uruguai, onde permaneceu por pouco tempo. Chegou ao Rio de Janeiro em 1874 e no ano seguinte fundou a firma Antonio Jannuzzi, Irmão & Cia., junto com seus irmãos.
A Antonio Jannuzzi, Irmão & Cia. tinha como principais colaboradores, os seus irmãos, e funcionava de forma hierárquica com Antonio no cargo de diretor geral (GRIECO, 2005). Na Companhia se subordinavam arquitetos, engenheiros e desenhistas e Jannuzzi e seus irmãos tinham formação de mestre-de-obra (RICCI, 1908, p. 7 apud GRIECO, 2005). O escritório realizou um grande número de obras de diferentes programas como: igrejas, hospitais, fábricas, hotéis e residências, como a obra de ampliação da casa do Candido Gafreé em Petrópolis. A Companhia Jannuzzi teve grande participação na abertura da Avenida Central em 1904, sendo responsável pela demolição das antigas construções e por diversos projetos dos novos edifícios.
Participou ainda da Companhia Evoneas Fluminense, na década de 1890, criada para a exploração da concessão dada a Américo de Castro para a construção de casas operárias (RICCI, 1908, p. 8 apud GRIECO, 2005). Como diretor técnico da Companhia também participou da produção de casas para classe média. A Companhia teve a concessão cancelada em 1892 resultando em prejuízo à firma Jannuzzi, Irmão & Cia (RICCI, 1908, p. 22 apud GRIECO, 2005). Sua relação com a produção de casas operárias continuou nos anos seguintes com a exposição de projetos desse tipo no Club de Engenharia em 1920, por meio da Associação dos Construtores Civis, onde atuou como presidente durante os anos de 1919 a 1928 (GRIECO, 2005). Produziu ainda artigos sobre a produção de habitação para pobres e operários publicados em jornais no Rio de Janeiro.
Em 1898 a firma de Jannuzzi foi premiada na Itália com a medalha de ouro na seção Ítalobrasileira da Exposição Geral de Turim. Também ganhou em 1906 o Diploma de Honra na seção “Italianos no estrangeiro”, da Exposição Internacional de Milão (GRIECO, 2005). Na publicação “Il Brasile e gli Italiani”, de 1906, teve os seus principais projetos fotografados e listados.
A atuação de Antonio Jannuzzi se concentrava nas cidades do Rio de Janeiro, Petrópolis e em Valença, onde teve grande influência na cidade contribuindo com a municipalidade e a sociedade com ações filantrópicas, como a reforma e doação de diversas edificações. A Companhia da família, que teve o nome alterado em 1907 para Antonio Jannuzzi, Filhos & Cia., foi responsável pela atuação em Valença nas primeiras décadas do século XX.
Antonio Jannuzzi faleceu em 23 de junho de 1949, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, em um imponente mausoléu.